Quando surge um escândalo envolvendo suspeita de crimes contra a dignidade sexual, vêm à tona roteiros parecidos para as ações do principal personagem envolvido, o suposto “predador sexual”. Costuma haver um padrão no comportamento e é isso que está sendo evidenciado pela equipe da investigação em curso pela Polícia Civil contra o ex-prefeito de Campo Grande Marquinhos Trad (PSD), de 57 anos, candidato ao governo de Mato Grosso do Sul.
Alvo de inquérito com 15 vítimas identificadas, Marquinhos é traduzido na apuração policial como alguém que usa, há bastante tempo, suas funções públicas como forma de trocar ajuda e benefícios por sexo. Há semelhanças na forma de agir de Marquinhos, revelam os depoimentos tomados.
depois de reunião na Assembleia. (Foto: Canal Aberto)
O Primeira Página teve acesso ao testemunho oficial de uma mulher, que é policial, cuja vida foi impactada seriamente, quando Marquinhos era deputado estadual, segundo ela. Ela está entre as vítimas já ouvidas pela Deam (Delegacia de Atendimento à Mulher), pois tomou coragem para contar o episódio, ocorrido muito antes das acusações agora tornadas públicas, em plena campanha eleitoral.
No gabinete da Assembleia Legislativa
Conforme o relato à polícia, tudo começou exatamente quando ela pediu auxílio ao parlamentar, mais de 6 anos atrás, no ano em que ele se disputou a eleição para prefeito de Campo Grande e alcançou a vitória.
Trabalhadora da segurança pública, ela não será identificada neste material, para proteger a privacidade.
Pelo que chegou até à Deam, o contato com Marquinhos Trad foi durante uma reunião para algo natural ao trabalho de um representante do povo: receber pedidos para intermediar causas dos eleitores.
Na época, em janeiro de 2016, o parlamentar foi bastante solícito, sugerem os detalhes informados à Polícia Civil. O parlamentar recebeu a mulher, junto com um colega, e prometeu trabalhar para ajudá-los. Na saída dos dois, fez questão de pegar o número do retorno, mas só o dela.
Nas declarações feitas aos investigadores, a denunciante conta que, findada a conversa, o então deputado a chamou de volta. Deu um aperto de mão, inclinou o corpo para abraçá-la e nesse instante, a beijou no rosto, além de “colou o tórax aos seios”.
Depois da despedida, as mensagens insinuantes vieram logo, na sequência de um agradecimento pelo oferecimento de auxílio.
“Penso em você”.
“E você?
“Diz a verdade”
“Sem justificativas”
“Sim ou não”
Essas palavras foram escritas no aplicativo Whatsapp, bastante usado pelo político para conversas com mulheres supostamente assediadas por ele, de acordo com o que o trabalho policial está indicando de suspeitas.
A essa denunciante, revela a investigação jornalística do Primeira Página, Marquinhos disse que só mandou esse tipo de mensagem por ter tido “sentimento”.
“Não sou criança e nem moleque. Já vivi e sei o que senti por você, por isso mandei mag (sic). Não duvide só seu sentimento”, prossegue o diálogo.
A fala ocorreu foi feita depois de a interlocutora argumentar não estar compreendendo a situação, por terem se visto apenas uma vez. A partir do que a trabalhadora na segurança pública contou, a insistência não parou por aí. Houve mais mensagens, além de ligações, e até fotos do parlamentar em agendas que teriam a ver com a demanda feita pela policial.
Se fosse hoje, conforme operadores do Direito ouvidos pelo Primeira Página, o então deputado poderia ser enquadrado no crime de perseguição, o “stalking”, regulamentado em 2021.
Como não havia essa tipificação penal, ainda não está claro como esses fatos vão ser enquadrados na legislação em vigor.
Quando a delegada responsável pelo caso, Maira Machado, falou a respeito da peça investigatória, citou os crimes de assédio sexual, tentativa de estupro, favorecimento da prostituição ou outra forma de exploração sexual e importunação sexual. Um outro ilícito cabível é a improbidade administrativa, por usar meios públicos para as conquistas sexuais.
As investigações começaram em julho deste ano, com quatro possíveis vítimas, mas hoje 15 mulheres já foram até a polícia para relatar crimes cometidos pelo ex-prefeito.
Conforme comprovam os detalhes obtidos pelo Primeira Página, são denunciantes com ocupações diversas, e de períodos distintos da vida política de Marquinhos Trad, iniciada em 2004, quando ele foi vereador em Campo Grande.
CRÉDITO E RESPONSABILIDADE PELA MATERIA: PRIMEIRA PÁGINA
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