Vereadora chefe da “casa da luz vermelha” pode ser cassada por discurso de ódio e falsas acusações contra médico

A parlamentar mais votada da cidade pode ter confundido o gabinete com o próprio bordel.

A polêmica vereadora Isa Marcondes (Republicanos), conhecida pelo controverso bordão “a cidade está uma zona e de zona eu entendo” — em alusão ao seu passado como proprietária de um bordel — está no centro de uma denúncia explosiva que pode custar seu mandato na Câmara de Dourados, a 230 km de Campo Grande.

Um médico da rede pública protocolou nesta segunda-feira (9) um pedido oficial de cassação da vereadora, acusando-a de calúnia, difamação, injúria, abuso de autoridade e incitação ao crime. O motivo? Isa teria usado sua popularidade nas redes sociais para iniciar uma verdadeira campanha de linchamento virtual contra o profissional, sem qualquer prova.

Segundo o documento apresentado à Câmara Municipal, a vereadora usou seu perfil no Instagram — com mais de 121 mil seguidores — para publicar vídeos com acusações gravíssimas contra o médico, como negligência, maus-tratos e humilhação a uma família que buscava atendimento para uma criança doente. O problema: nada disso foi confirmado pelos prontuários médicos, nem por testemunhas qualificadas.

A vereadora, que ostenta nas redes sociais o apelido de “cavala” e costuma fazer vídeos escandalosos em unidades de saúde, é acusada de usar o sofrimento de pacientes como palanque político, promovendo o que os advogados chamam de “pão e circo eleitoreiro” em cima de profissionais da saúde.

Cenas de confronto e ameaça

A confusão começou após o atendimento de uma criança de apenas dois anos e três meses na unidade do Altos do Indaiá. Inconformada com a conduta médica — mesmo sem qualquer respaldo técnico — Isa gravou um vídeo inflamado acusando o profissional de agressividade e omissão, sem ouvi-lo ou buscar qualquer versão oficial. A gravação viralizou e ultrapassou 109 mil visualizações em poucas horas.

No dia seguinte, a vereadora foi pessoalmente à unidade e se recusou a conversar com o médico, chegando a ameaçar chamar a polícia. Dias depois, voltou a gravar outro vídeo na frente do posto de saúde, desta vez exaltando uma médica e dizendo, em tom debochado, que “o doutor daqui já não é bom” e “deveria estar em outra profissão”.

As publicações geraram comentários violentos e ameaças contra o servidor, alimentando uma onda de ódio virtual. Na denúncia, o médico alerta que a vereadora estaria instigando seus seguidores a partir para a agressão física contra profissionais da saúde.

Cassação à vista?

A denúncia foi apresentada com base no artigo 56 da Lei Orgânica do Município e pede sanções duras, que vão desde advertência pública, censura e suspensão do mandato até a própria cassação. O caso também será enviado ao CRM-MS e ao Ministério Público Estadual para responsabilização penal.

Entre os crimes listados estão calúnia (art. 138), difamação (art. 139), injúria (art. 140), incitação ao crime (art. 286), ameaça (art. 147) e abuso de autoridade (Lei 13.869/2019, art. 30).

Em nota enviada à imprensa, Isa Marcondes se diz vítima de perseguição. “Querem calar a fiscalização”, escreveu, tentando justificar que os ataques ao médico foram apenas reflexo do seu compromisso com a saúde pública. A vereadora lembra que teve 2.992 votos e afirma que está apenas fazendo o que prometeu na campanha.

No entanto, a retórica da “fiscal do povo” pode não bastar para livrá-la de um julgamento público e político que cresce nas ruas e nas redes. O que muitos se perguntam agora é: será que a vereadora confundiu o papel parlamentar com a administração de uma zona?

A Câmara deve se posicionar ainda nesta semana. Se o processo for aberto, Isa poderá ser afastada e investigada formalmente — um duro golpe na imagem de quem se elegeu prometendo “moralizar a cidade”.

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