A “voz da verdade” ecoou alto na manhã desta quarta-feira (21), e o que ela revelou foi um verdadeiro saque institucional à educação pública de Mato Grosso do Sul. Em plena área nobre de Campo Grande, um apartamento de luxo na Rua das Garças — conhecido por abrigar figurões da elite política e empresarial — foi palco de uma operação da Polícia Federal que escancarou os bastidores de um esquema criminoso milionário dentro da Secretaria Estadual de Educação (SED). A cena foi digna de filme: cofres arrombados, agentes federais vasculhando ambientes de alto padrão e uma apreensão que choca — mais de R$ 363 mil em espécie escondidos num cofre residencial.

A operação, batizada de Vox Veritatis — a “voz da verdade” em latim — trouxe à tona aquilo que há muito tempo já circulava nos bastidores do governo estadual: contratos viciados, corrupção institucionalizada e uma estrutura que transformou a SED em balcão de negócios para favorecer empresários aliados e operadores do sistema.
Segundo a investigação, o esquema funcionava com a participação direta de servidores da própria Secretaria. Empresários, em parceria com esses agentes públicos, manipulavam adesões a atas de registro de preços de outros órgãos, criando contratos com valores superfaturados e comissões criminosas de 5% sobre cada contrato. O valor era dividido entre os empresários e os servidores cúmplices.
Apenas dois contratos sob investigação já somam mais de R$ 20 milhões, com indícios de que o montante desviado seja muito superior. Além de Campo Grande, a PF cumpriu mandados no Rio de Janeiro, o que indica que o esquema pode ser interestadual e ainda mais profundo do que se imaginava.
O mais estarrecedor, no entanto, foi a reação da cúpula da SED. Confrontado sobre a operação, o secretário responsável Hélio Daher pela pasta declarou que “não tinha conhecimento” da ação policial. A justificativa foi recebida com perplexidade por parte da população e pela própria base da educação estadual, que se pergunta como um órgão alvo de uma operação federal milionária sequer desconfiava de algo que acontecia debaixo dos seus olhos ou tomou providências preventivas. O discurso de “não saber de nada” soa como repetição de um velho roteiro de impunidade.
Fontes internas relataram que o clima dentro da Secretaria é de tensão total. Servidores de carreira estariam com medo de represálias, e há quem afirme que alertas sobre irregularidades vinham sendo feitos há meses — e ignorados. Fonte revela que há sinais claros de que o comando da pasta não só sabia como se omitiu para possivelmente proteger os envolvidos.
A Polícia Federal apura crimes como peculato, corrupção ativa e passiva, lavagem de dinheiro e fraudes em licitações. Se confirmadas as denúncias, Mato Grosso do Sul estará diante de um dos maiores escândalos de corrupção já registrados na área da educação.
Enquanto isso, escolas públicas seguem abandonadas, professores mal remunerados e alunos privados do básico. O dinheiro que deveria garantir um futuro digno para milhares de crianças foi parar no fundo de um cofre escondido entre paredes de mármore e móveis planejados.
A voz da verdade falou. Agora, resta saber se o governo estadual tomara providências.