Grileiros financiaram o alto escalão político de MS e uma figura da direita, aponta investigação da PF

Uma rede de interesses, poder e dinheiro público parece ter se entrelaçado em meio às planícies do Pantanal. A operação deflagrada pela Polícia Federal nesta semana trouxe à tona indícios de que empresários investigados por grilagem de terras da União não atuavam sozinhos — eles tinham acesso direto aos bastidores do poder.

Documentos obtidos pela PF revelam que grileiros atuantes no Pantanal sul-mato-grossense financiaram campanhas políticas, incluindo nomes do alto escalão da política do MS e também uma figura expressiva da direita.

Entre os investigados, está o empresário Mario Maurício Vasques Beltrão, sócio da empresa Toposat Engenharia, especializada em georreferenciamento e serviços fundiários. Beltrão aparece como doador de R$ 50 mil a uma campanha de 2022 — valor considerado relevante e que agora passa a ser analisado sob nova ótica pela Polícia Federal.

Também investigada, a produtora rural Elizabeth Peron Coelho, representante legal da Fazenda Redenção, aparece no centro da desapropriação de 42 mil hectares realizada pelo governo estadual em 2021, no valor de R$ 36 milhões. Uma das sócias de Elizabeth também figura como doadora de campanha de um parlamentar municipal filiado ao PL, legenda com forte presença no campo conservador sul-mato-grossense.

Os investigadores apuram se houve favorecimento institucional em processos de regularização fundiária, especialmente nas desapropriações milionárias que beneficiaram os investigados. O ex-presidente da Agraer, André Borges, que assinou as escrituras das fazendas desapropriadas, também está entre os alvos da operação.

Trama silenciosa e conexões políticas

Segundo a PF, o esquema funcionava com falsificação de documentos, omissão proposital da titularidade da União sobre as áreas, e possível pagamento de propina para que os processos tramitassem dentro da Agraer até a emissão de títulos supostamente válidos.

Até o momento, nenhuma autoridade beneficiada pelas doações se manifestou publicamente. O silêncio, no entanto, alimenta a desconfiança. A Polícia Federal já confirmou que novas quebras de sigilo bancário e fiscal estão em andamento.

O que parecia apenas mais um escândalo fundiário pode ganhar proporções muito maiores. A trama envolve dinheiro público, empresários com interesses diretos em políticas ambientais, e possíveis acordos silenciosos com figuras de peso da política sul-mato-grossense.

Enquanto o Pantanal resiste às queimadas e à destruição ambiental, nos bastidores, suas terras podem ter sido utilizadas como moeda política — e parte do preço pode ter sido pago com doações eleitorais.

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