Enquanto brada contra o sistema, vereador de Campo Grande e seus assessores surfam em verbas públicas, incluindo publicidade vinda do governo federal petista. O nome disso? Hipocrisia premiada.
O discurso inflamado contra a esquerda, contra a “mamata” e contra o sistema parece ruir como castelo de areia quando o foco recai sobre o gabinete do vereador Rafael Tavares (PL), de Campo Grande. O auto-intitulado paladino da moralidade bolsonarista virou o centro de uma tempestade de suspeitas e incoerências, e o que vem à tona não é nada bonito.
De um lado, Rafael Tavares posa nas redes sociais como guardião dos bons costumes, defensor da moral pública e caçador de esquemas. Do outro, seu chefe de gabinete, Danilo Azambuja, comanda um site chamado MS Conservador que, mesmo atacando diariamente a esquerda, recebe – veja só – verba pública de pelo menos dois órgãos oficiais, incluindo publicidade custeada por repasses do governo federal comandado pelo presidente Lula. Isso mesmo: o petista que Rafael adora demonizar.

Em abril, a farra foi flagrada: o site mantinha banners publicitários ativos da Prefeitura de Campo Grande e da Assomasul (Associação dos Municípios de Mato Grosso do Sul). Estima-se que a publicidade da prefeitura renda ao portal algo em torno de R$ 20 mil, enquanto a da Assomasul giraria na casa dos R$ 10 mil. Tudo isso sustentando um site que, na teoria, combate o que chama de aparelhamento do Estado.

Mas se você acha que o escândalo para por aí, se prepare. Segundo revelou o site O Jacaré, Lucas Rael Alves Acosta, outro assessor de Rafael Tavares, foi denunciado pelo Ministério Público Estadual por desvio de recursos da cooperativa Crediquali. O valor de R$ 5.789 teria sido usado para comprar um carro pessoal – um GM Astra 2009 – e ainda bancar a montagem de um estúdio musical. Isso mesmo: da “nova política” ao novo estúdio.

Não é a primeira vez que o site MS Conservador aparece em situações nebulosas. Em 2023, veio à tona que Danilo Azambuja, além de ocupar cargo na Assembleia Legislativa, também era responsável formal pelo CNPJ do portal. Mesmo após denúncias, o domínio ainda exibe como e-mail de contato um endereço com o nome de Azambuja. Ou seja, mudaram as formas, mas não mudaram os donos.
A grande ironia? O MS Conservador segue ativo, vociferando contra a esquerda, a corrupção, a velha política e, claro, os gastos públicos. Tudo isso bancado por verbas públicas, inclusive com origem no governo do PT.
Até o momento, nenhum dos envolvidos ofereceu explicações convincentes. Nem o vereador Rafael Tavares comentou a situação do site gerido por seu braço direito, nem explicou como seu discurso contra o sistema combina com contratos publicitários de órgãos públicos – inclusive com dinheiro vindo da “esquerda que destrói o Brasil”, como ele costuma dizer em suas postagens.
A pergunta que fica: será que o combate à mamata virou uma nova forma de negócio para os que diziam combatê-la? Ou será que a “moralidade” só vale quando o dinheiro não pinga do lado oposto?
Em meio a tanta contradição, o eleitor conservador fica no escuro. Porque a bandeira da ética tremula forte… mas só quando não há verba petista soprando o vento.