A ação penal contra 11 integrantes de uma quadrilha especializada na falsificação e adulteração de veículos chegou à fase final em Ponta Porã. Entre os réus estão ex-servidores públicos, empresários e um funcionário de cartório, acusados de integrar um esquema que legalizava veículos clonados para serem usados em crimes e na ocultação dos verdadeiros proprietários.
A juíza Sabrina Rocha Margarido João assinou, no dia 24 de janeiro, a decisão mais recente do caso. No despacho, ela analisou e rejeitou a maioria das solicitações feitas pelas defesas, que questionavam a legitimidade passiva, a anulação de quebras de sigilo e a produção de provas. Agora, as partes têm prazo para apresentar as alegações finais antes da sentença.
Esquema de fraude e corrupção
A investigação, conduzida pela Delegacia Especializada de Combate ao Crime Organizado (DECO), revelou que a quadrilha operava desde 2011 com o objetivo de regularizar veículos de forma fraudulenta junto ao Detran-MS. O grupo falsificava documentos e inseria informações falsas nos sistemas de identificação veicular para garantir que automóveis de origem criminosa pudessem circular sem levantar suspeitas.
O líder do esquema, Aral Mattoso, era sócio do Despachante Excel e se aproveitava de seu conhecimento sobre a tramitação de documentos públicos e das prerrogativas junto ao Detran-MS para legalizar veículos clonados. Além disso, facilitava a lavagem de dinheiro e ocultava a verdadeira propriedade dos automóveis.
Segundo a denúncia, Mattoso utilizava CPFs de terceiros — com ou sem o consentimento deles — para criar registros falsos e transferir veículos para identidades fictícias. Muitos desses automóveis acabavam sendo apreendidos pela polícia, carregados com drogas, produtos de contrabando ou por estarem clonados.
Corrupção dentro do Detran e cartórios
As investigações apontaram que o técnico em informática Paulo Roberto Lara Correa, funcionário do despachante, era responsável por falsificar documentos. Outro réu, Waner Barbosa Medina, também participava da fraude e tinha a função de subornar servidores do Detran-MS. Entre os beneficiados pelos pagamentos ilícitos estavam Luciana Dariz Farinha, Alexsandro Lino Aristimunho, Leandro Martins Arevalo e Cristiano Aparecido dos Santos.
Além disso, Alexandre Marques da Silva, tabelião substituto do Cartório de Notas de Antônio João/MS, também fazia parte do esquema, facilitando a inclusão de dados falsos no sistema do órgão de trânsito.
O grupo falsificava placas, lacres, chassis e outros elementos de identificação veicular. Durante a investigação, peritos encontraram cópias de documentos de identidade com diferentes nomes, mas com impressões digitais idênticas, evidenciando a complexidade da fraude.
Interceptações e provas contundentes
As autoridades desarticularam o esquema com base em um conjunto robusto de provas, incluindo interceptações telefônicas, documentos falsificados e testemunhos de vítimas e envolvidos. O inquérito policial revelou que, ao todo, a quadrilha fraudou 215 veículos, dos quais pelo menos 30 foram recuperados durante a apuração dos fatos.
Com a finalização das alegações finais, a sentença do caso se aproxima. Se condenados, os envolvidos poderão responder por crimes como falsificação de documentos, corrupção ativa e passiva, organização criminosa e lavagem de dinheiro. O desfecho do julgamento será decisivo para a responsabilização dos réus e para a tentativa de desmantelar de vez o esquema criminoso.