Na mira da Polícia Federal clube de tiro pode ter elo com facção criminosa do Rio de Janeiro

Em Campo Grande, a situação é preocupante. Moradores de bairros na periferia, que mal conseguem pagar uma conta de luz de cerca de R$ 200, estão envolvidos na compra de mais de R$ 100 mil em armamentos pesados, como fuzis de 7,62. Esse esquema se aproveita de registros de caçador, atirador e colecionador (CAC), com a intermediação de um clube de tiro com unidades em Campo Grande e Maracaju. Essas pessoas são usadas como “laranjas” para legalizar a entrada de armas em organizações criminosas, conforme investigações da Polícia Federal.

O Clube de Caça Golden Boar, alvo de uma operação da Polícia Federal em 2022, já se vangloriava em suas redes sociais da proximidade com políticos e celebridades. Entre esses, estavam os deputados federais Marcos Pollon (PL-MS), presidente do Pro-Armas no Brasil, e Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente Jair Bolsonaro. O clube também se associou a artistas sertanejos como Jads, da dupla Jads e Jadson, e Munhoz, da dupla Munhoz e Mariano.

Rodrigo Donovan de Andrade, operador do clube de tiro, é mencionado no inquérito como tendo um histórico de envolvimento em roubos a agências bancárias em Mato Grosso e Sergipe, uma prática conhecida como “novo cangaço”. Rodrigo e sua então esposa, Ellen de Lima Souza Andrade, ostentavam fotos ao lado de Pollon e Bolsonaro nas redes sociais. Mas os documentos da Polícia Federal indicam que o casal liderava uma rede complexa de transações financeiras e transferências de armas e munições, com depósitos superiores a R$ 1,5 milhão.

Um exemplo chocante desse esquema é Kessiene Vieira Pinheiro, que, apesar de ter dificuldades financeiras e uma conta de luz com aviso de corte, conseguiu registrar quatro fuzis e quatro pistolas, avaliados em R$ 118 mil. Kessiene, moradora do Jardim Canguru, adquiriu essas armas com documentos questionáveis, e sua ligação com criminosos chamou a atenção da Polícia Federal. Ela é irmã de Tiago Vinícius Vieira, membro da facção Terceiro Comando Puro, e ex-esposa de André Luis Flores Simião, investigado por tráfico de armas.

Mesmo alegando ser empresária, Kessiene não tem histórico que justifique a compra de tantas armas. Seu último emprego formal foi como auxiliar de serviços gerais em 2013, com um salário de R$ 870. A Polícia Federal destaca que ela nunca comprou munição, reforçando a suspeita de que ela seja apenas uma testa-de-ferro para a facção criminosa.

O inquérito também menciona a irmã de Rodrigo, Mirella de Andrade, que, apesar de ser CAC, parece mais interessada em sua faculdade de nutrição do que em atividades de caça e tiro. Ela adquiriu armas por transferência, dificultando o rastreamento dessas transações. Algumas armas transferidas para Kessiene foram originalmente de Ellen, esposa de Rodrigo.

As investigações resultaram na Operação Oplá, que em duas fases, encontrou indivíduos como Narciso Chamorro em posse de armamentos pesados e coletes balísticos. Narciso, flagrado usando um boné do Golden Boar, afirmou ser funcionário do clube, embora aleguem que ele era apenas um prestador de serviços.

O Política Voz abre espaço para que os citados tenham direito de resposta sobre o que foi citado na matéria.

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