‘Motinha’ era cliente de pistoleiro de Raffat e ‘Minotauro’ na fronteira seca de MS

Além de contratar especialistas de guerra e montar exército paramilitar na fronteira seca de Mato Grosso do Sul com Pedro Juan Caballero, Antônio Joaquim Mendes da Mota, também conhecido como ‘Motinha’, era cliente de pistoleiro famoso e temido na região.

Assim como o patrão, que pertence à terceira geração de uma família envolvida com tráfico de cocaína, Márcio Ariel Sanches Giménes, o ‘Abacate’ ou ‘Fruta’,  figura na seleta lista de difusão vermelha de procurados pela Interpol e era prestador de serviços para o ‘Clã Mota’.

O criminoso executado em 16 de junho deste ano com 33 tiros, dentro da sua própria casa e que teve o corpo ‘desovado’ a 200 metros do Palácio da Justiça, aparece em um dos ‘livros-caixa’ apreendidos pela PF no âmbito da operação “El Patron’ e é citado no autos do MPF no âmbito da operação ‘Magnus Dominus’.

Isso mostra que a ligação de ‘Abacate’ com o Clã Mota antecedia alguns acontecimentos orquestrados facções que atuam na fronteira.  Ele também aparece em uma outra lista de funcionários de outro criminoso importante do PCC (Primeiro Comando d Capital), Sérgio de Arruda Quintiliano, o ‘Minotauro’.

Dentre os inúmeros homicídios em que era  suspeito, o que ganhou maior repercussão foi a morte de  Haylee Carolina Acevedo Yunis. Ela é  filha do ex-governador do Departamento de Amambay e atual prefeito de Pedro Juan Caballero, Ronald Acevedo.

Após esse crime, ‘Abacate’ teve o nome colocado na lista da difusão vermelha da Interpol. Consta no mandado de prisão expedido pela Organização Intergovernamental,  que Márcio Ariel Sanches Giménes trabalhava para o Clã Mota.

“Portanto, é evidente que a organização criminosa aqui investigada é estruturada, com divisão de tarefas e bem paga pelo chefe do grupo, MOTINHA, que repassa os “proventos” aos mercenários”, diz um trecho da ação do MPF que denunciou Antônio Joaquim Mendes da Mota.

Entretanto, as investigações da Polícia Federal que fundamentaram a denuncia contra a organização paramilitar, montada para garantir a segurança dos negócios ilícitos do Clã Mota, não dão detalhes sobre os tipos de serviços desempenhados por Abacate, que é identifica na contabilidade do grupo como ‘Fruta’.

Documentos mostram ligação com ‘Clã Mota’ (Foto: Reprodução autos processuais)

Conheça mais sobre o ‘Fruta’

O homem fuzilado em Pedro Juan Caballero, na fronteira com Ponta Porã, tinha codinome de fruta, mas não era nem um pouco doce. Marcio Ariel Sánches, 35 anos, conhecido como ‘Abacate’, era nascido em Capitán Bado, cidade que faz divisa com Coronel Sapucaia, e colecionava uma extensa ficha criminal.

 ‘Abacate’, de acordo informações da Polícia Nacional, teria se tornado um assassino antes mesmo de atingir a maioridade em sua cidade natal. Em 2010, ele ganhou notoriedade após ser preso depois de trocar tiros com agentes da Polícia Nacional durante a investigação de um duplo homicídio.

O criminoso trabalhou como chefe de segurança do narcotraficante Jorge Rafaat, assassinado em Pedro Juan Caballero em junho de 2016. De acordo com informações da Polícia Nacional, ‘Abacate’ era considerado extremante perigoso e apontado como operador de uma espécie ‘escritório de pistoleiros’.

Um áudio descoberto pela Polícia Nacional durante as investigações sobre a execução de Márcio Ariel Sánchez Giménez, conhecido como ‘Abacate’, revela que antes de morrer, o criminoso fez ameaças a inimigos.

Na mensagem encontrada pela polícia, o criminoso que comandava uma ‘agência de pistolagem’ ataca outros colegas do crime.

“Eu posso amanhecer na frente da sua casa, você pode me sentir ao amanhecer e o que vão fazer? Vocês não são bandidos. São principiantes”, diz Márcio Sánchez inicialmente em mensagem gravada em guarani.

Vou destroçá-los com fuzil se incomodarem porque ninguém vai salvá-los, nem mesmo se ajoelharem aos pés de Deus, amigo”, finaliza ‘Abacate’.

Ele era conhecido na fronteira por ter trabalhado como segurança de Jorge Rafaat, ‘rei do tráfico’ assassinado em 2016 na cidade de Pedro Juan Caballero, divisa com Ponta Porã. Atualmente, Abacate era chefe de pistoleiros e considerado um “arquivo vivo” de crimes na fronteira.

No currículo de Abacate, antes mesmo de montar sua própria agência de pistolagem tem anotado em seu currículo um emprego com Sergio de Arruda Quintiliano Neto, também conhecido como ‘Minotauro’.

A morte de ‘Abacate’ deixou a segurança paraguaia e brasileira, em Mato Grosso do Sul, em alerta. Varias diligências foram feitas para tentar encontrar os assassinos. Até hoje a polícia não conseguiu apontar nenhum suspeito.

Festa com ‘amigos’

Com base em diligências feitas em uma mansão alugada em Pedro Juan Caballero, onde a polícia acredita ser o local da execução, os investigadores afirmam que o pistoleiro teria sido traído por pessoas próximas.

A informação é do comissário Luis López, chefe da equipe policial responsável pela investigação do assassinato de Márcio. Segundo ele, tudo indica que ‘Abacate’ foi executado nesta casa que teria sido alugada pelo seu próprio cunhado.

Ainda segundo o comissário, para os investigadores há a convicção de que o líder dos pistoleiros, acusado de ser o responsável direto mais de 50 assassinatos por encomenda, foi morto por seus próprios guardas e parentes, desde sua primeira quadrilha.

‘Todo mundo sabia’

Após a morte de ‘Abacate’, o prefeito de Pedro Juan Caballero, Ronald Acevedo, que sempre acusou o pistoleiro como responsável pelo massacre ocorrido na cidade e que resultou na morte de sua filha Haylée Acevedo, reiterou suas críticas às autoridades de segurança do Paraguai.

Segundo o prefeito de Pedro Juan Caballero, Ronald Acevedo, na cidade “todo mundo sabia” o que Marcio Sánchez estava fazendo ou onde estava, menos a Polícia Nacional. O político também acusa ‘Abacate’ pelo assassinato do seu irmão, o ex-prefeito de Pedro Juan Caballero, José Carlos Acevedo.

Ronald Acevedo também disse à mídia paraguaia no mesmo dia em que a morte de ‘Abacate’ foi confirmada, que as ações da Polícia Nacional são ‘filtradas’ e que por isso são ineficazes. Segundo ele, que todos os paraguaios são “vítimas do Estado, que não dá segurança a nenhum cidadão”.

“Sempre defendi que (Aguacate) estava por aqui ameaçando as pessoas. Na zona maneja-se que o final delas seja o cárcere ou o cemitério. Um morre e vêm 10. Nunca mexemos com eles, somos vítimas. Logicamente temos medo”, declarou o prefeito de Pedro Juan Caballero.

O corpo de ‘Abacate’ foi reconhecido pela irmã graças a uma tatuagem nas costas do pistoleiro. Nela aparece uma pistola entrelaçada a um terço católico com crucifixo. Pela frase gravada em espanhol na pele (e aqui traduzida pela reportagem do Jornal Midiamax), ironia ou não, o criminoso que colecionava mortes parecia ter esperança de um dia se encontra se encontrar com Deus. “Sigo o meu caminho ao lado de Deus. Se eu não voltar é porque estou ao lado dele”.

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