Ela e seu marido, o prefeito de Belford Roxo, Waguinho, mantêm relações próximas com policiais acusados de cometer crimes e com histórico de violência
A ministra do Turismo, Daniela Carneiro (União Brasil), mantém em seu círculo próximo um oficial da Polícia Militar do Rio de Janeiro que foi condenado duas vezes por desvio de verba no hospital da corporação. Helson Sebastião Barboza dos Prazeres é amigo pessoal de Daniela e de seu marido, Waguinho (União Brasil), prefeito de Belford Roxo. Fontes ouvidas por VEJA na condição de anonimato afirmaram à reportagem que Helson atua como um dos seguranças do casal.
O policial está suspenso das atividades da PMERJ, onde atuava na Diretoria Geral de Pessoal da Corporação. Helson participou da sessão de posse em primeiro de janeiro de 2021, quando Waguinho celebrava a reeleição com mais de 80% dos votos. Na ocasião, eles posaram juntos para fotos. A amizade foi festejada também em 29 de outubro do ano passado, dia do aniversário de Waguinho. Helson fez uma declaração ao político: “Uma pessoa com quem temos o prazer de dividir nossos dias de luta e dias de glória”, escreveu, junto a um trecho de uma música do Zeca Pagodinho, cuja letra diz “meu grande amigo”. No Instagram, os dois são seguidores um do outro.
Logo após a reeleição, a mulher de Helson, Ana Paula Ribeiro Silva dos Prazeres, foi nomeada como diretora de fiscalização da Saúde na prefeitura de Belford Roxo. Posteriormente, ela exerceu a função de secretária executiva da divisão de materiais hospitalares, até deixar o cargo, no final de 2022.
O policial está envolvido em processos de fraude no Fundo de Saúde da Polícia Militar, onde foi chefe, e acabou condenado em dois processos na Justiça fluminense: em 2019, a oito anos em regime semiaberto, pelo desvio de cerca de dois milhões de reais na compra de 18 000 testes de substratos fluorescentes pelo Hospital da Polícia Militar de Niterói. Em 2020, ele foi novamente condenado pela compra sem licitação de aparelhos de ar-condicionado com a fornecedora M&C Comercio e Soluções de Equipamentos, no valor de 560 000 reais.
O histórico atribulado do agente não impediu que ele fosse homenageado em 2021 pela Câmara dos Vereadores de Belford Roxo, reduto eleitoral de Daniela e Waguinho, com a medalha Engenheiro Belfort, a maior comenda do município. A condecoração foi feita por Robson Sarmento, o Amigo Binho (Solidariedade), vereador da cidade e um dos apoiados por Waguinho ao posto.
Amigo Binho é outra pessoa próxima do casal que tem problemas com a lei. Ele responde a processo na Justiça Criminal por roubo e receptação de cargas. Mas isso não o impediu de ser nomeado por Waguinho como secretário de Saúde do município, cargo que exerceu entre agosto de 2019 e março de 2020. Antes disso ele atuou como secretário executivo na Secretaria Municipal de Belford Roxo. Para se eleger como vereador, o ex-PM precisou obter na Justiça uma comprovação de sua elegibilidade, alegando que ainda não havia sido condenado e, portanto, estava apto a participar do pleito. A declaração não significa absolvição do caso.
Durante a campanha para deputada federal, em 2018, Daniela do Waguinho contou com o apoio de Juracy Alves Prudêncio, o Jura, condenado por homicídio e apontado pela Justiça como um miliciano do município de Belford Roxo. Já no pleito de 2022, a esposa de Jura, Giane, foi quem atuou como cabo eleitoral. A Ministra do Turismo falou sobre miliciano ter participado de sua campanha: “Ela ressalta que o apoio político não significa que ela compactue com qualquer apoiador que porventura tenha cometido algum ato ilícito”.
No entanto, em registros obtidos por VEJA, Juracy e Giane aparecem ao lado do 3º Sargento da PMERJ Fábio Sperendio de Oliveira, que também recebeu homenagem do grupo político ligado a Belford Roxo. Em 2016, Waguinho solicitou a concessão da medalha Tiradentes ao policial, que foi realizada em março de 2017. Segundo moradores de Belford Roxo ouvidos por VEJA, Sperendio atua na segurança particular do casal. Ele já foi assessor de Waguinho quando o político ocupava o cardo de deputado estadual e, até dezembro de 2022, fazia parte dos quadros da Assembleia Legislativa, lotado no gabinete de Márcio Canella (União Brasil) , aliado de Daniela, com quem fez “dobradinha” durante a eleição. Ele foi exonerado a pedido uma semana antes da ministra ser indicada por Lula.
Fiel escudeiro de Waguinho, Sperendio teria sido o responsável por levar Juracy, condenado a 22 anos por homicídio, ao núcleo do prefeito, segundo afirma um funcionário da prefeitura ouvido por VEJA. Embora recebesse um salário de 7,8 mil reais da ALERJ, ele era comumente visto na prefeitura de Belford Roxo, a 35km de distância.
No primeiro turno da eleição de 2022, ele foi acusado de ameaçar cabos eleitorais de opositores de Waguinho no município. Na ocasião, uma grávida chegou a ser agredida e um processo foi instaurado contra ele na Corregedoria da Polícia para se averiguar o caso.
Um ano antes, em junho de 2021, o policial sofreu punição disciplinar do órgão, após ter entrado armado na câmara de vereadores de Belford Roxo para ameaçar Danielzinho (PSDB), um vereador da oposição. “Eu vou acabar contigo”, esbravejou na ocasião. Câmeras internas gravaram Sperendio ofendendo o segurança do vereador, chamando-o de “bandido”.