Decisão foi tomada no inquérito que apura vários crimes sexuais praticados pelo ex-prefeito
A juíza Eucélia Moreira Cassal, da 3ª Vara Criminal de Campo Grande, determinou a quebra do sigilo telefônico e do perfil no Instagram do ex-prefeito Marquinhos Trad. A decisão foi tomada no âmbito do inquérito policial que apura o envolvimento do político em crimes de importunação sexual, assédio e favorecimento à prostituição, conforme denúncia apresentada à Justiça pelo Ministério Público.
Marquinhos Trad terá de entregar o celular à polícia em até 5 dias após ser citado pelo oficial de justiça. Como o Poder Judicário encontra-se em recesso, a citação deverá ocorrer apenas em janeiro.
A determinação da quebra de sigilo foi tomada no dia 16 de dezembro pela magistrada, conforme noticiado nesta segunda-feira pelo site de notícias Midiamax. Se a entrega não for feita após a citação, o ex-prefeito pode ser alvo de mandado de busca e apreensão.
A decisão judicial atende pedido da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM), que solicitou busca e apreensão de eletrônicos na residência de Trad, tais como celulares e notebooks, a exemplo do que ocorreu na prefeitura no dia 9 de agosto passado.
Rede Social
Também foi solicitada – e deferida – a quebra do sigilo de dados da conta oficial de Trad na rede social Instagram. A partir da análise dos dados será possível identificar, além das conversas, a movimentação do ex-prefeito em Campo Grande e em outras cidades, inclusive com o tempo de permanência, data e horário em que esteve em cada local.
Além disso, no pedido são solicitadas informações sobre a linha telefônica e o compartilhamento de provas entre três inquéritos policiais que investigam Marquinhos Trad.
Também conforme o pedido, uma das investigações – que têm como alvo Marquinhos Trad e o empreiteiro André Luiz dos Santos, mais conhecido como André Patrola – reuniu provas de que o investigado agiria, na maioria das vezes, mediante conversas com as vítimas via WhatsApp, bem como de sua rede social. O compartilhamento, portanto, poderia elucidar o caso.
Ex-assessor
A justificativa apontada no pedido decorre do fato de que Marquinhos Trad teria “estreita relação” com Victor Hugo Ribeiro Nogueira da Silva, investigado em um dos inquéritos que envolvem o ex-prefeito. Victor está preso preventivamente por coação e corrupção ativa de testemunha no inquérito em que foram apurados os crimes praticados pelo político.
Ainda para a delegada, os atos de Victor Hugo poderiam guardar relação com o ex-prefeito, já que ele chegou a exercer cargo em comissão na Prefeitura de Campo Grande, na época em que Marquinhos comandava o Executivo Municipal.
Entenda o caso
Marquinhos Trad foi denunciado à Justiça pelo promotor Alexandre Pinto Capiberibe Saldanha em função de uma série de crimes sexuais praticados contra sete mulheres no período em que ele era prefeito de Campo Grande.
Marquinhos foi denunciado pelos crimes de assédio sexual (1 vítima), importunação sexual (3 vítimas) e por favorecimento da prostituição ou outra forma de exploração sexual (3 vítimas). Ao final das investigações, das 16 mulheres que fizeram as denúncias, 7 permaneceram no inquérito.
No caso das demais mulheres, em sua maioria as denúncias não foram levadas adiante porque os crimes prescreveram. No inquérito que tramitou na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM) foram investigados casos ocorridos a partir do ano de 2005.
Jornal Metrópoles
As denúncias contra Marquinhos Trad vieram a público em abril, por meio de matéria publicada no site Metrópoles, pelo jornalista Guilherme Amado, que teve acesso aos boletins de ocorrência com as queixas prestadas por quatro mulheres – mais tarde, uma delas voltou atrás após ser cooptada por um ex-assessor do político, que está preso.
À imprensa, Marquinhos Trad sempre negou todas as acusações. “Uma tentativa covarde, rasteira. Estão desesperados porque estamos em primeiro nas pesquisas, mas não conseguirão mudar a vontade da população de dar um basta nesta gente que administra pensando nos próprios interesses e é capaz de tudo para conseguir o que quer. Já tentaram isso em 2020 e a própria polícia considerou uma armação”, disse.
Depoimento
No dia 19 de outubro, depois de falar à delegada Maíra Pacheco Machado por aproximadamente três horas, Marquinhos Trad atacou o governador Reinaldo Azambuja (PSDB) e evitou falar de fato das acusações. Para ele, o caso foi “armação política”.
“Uma das maiores armações políticas, institucionais e estatais que este Estado já viu. Infelizmente refletiu nas urnas, e o tempo vai mostrar que foi uma verdadeira crueldade que fizeram. Logo vocês vão ficar sabendo”, comentou, depois de horas de depoimento.